Artigo – As desigualdades no mercado de trabalho e a ciência do endividamento público e privado

  • 20 de novembro de 2017
  • Artigo

Nós, os pretos e pardos, somos a maioria da população brasileira, por isso sofremos mais com as mazelas da economia e da sociedade. Na violência urbana, por exemplo, 61 mil cadáveres são expostos todo ano no Brasil. A maioria é de pretos e de pardos. A educação não chega a todos com igualdade de oportunidades, o que é sentido em maior frequência entre os pretos e pardos. O despreparo nos empurra para a informalidade e quando nos encontramos no mercado formal outra vez, o preparo relativo explica o ganho salarial médio a menor para a maioria dos casos.

Medidas afirmativas têm acontecido no Brasil para corrigir tamanha desigualdade. No campo da educação, li recentemente um artigo do ex-ministro Delfim Neto, na Folha de São Paulo, apoiando a iniciativa da Universidade de São Paulo (USP) de criar cotas raciais. De São Paulo vem outra inciativa corajosa de representantes da classe média brasileira voltada para o combate à desigualdade entre pretos e pardos no mercado de trabalho e na sociedade em geral, da professora de Antropologia da PUC de Campinas Elisete Zanlorenzi, que em uma tese de doutorado desmistifica a chamada “preguiça baiana”, cuja raiz é um preconceito contra negros e pardos da Bahia e do Brasil. Ela conclui que o preto ou pardo baiano é trabalhador tão eficiente quanto qualquer brasileiro.

A ciência e seus cientistas, quando se voltam para as questões reais da sociedade, contribuem muito para o esclarecimento e posterior solução de questões reais. Uma vez compreendidas as questões, no mais é debate, divulgação, consenso e política.

Neste Dia da Consciência Negra, 20 de novembro, gostaria de deixar uma modesta colaboração nesta área: que seja criada no Brasil a Ciência do Endividamento Público e Privado. As condições históricas para que isso ocorra estão criadas. No setor público, o endividamento explica a ruína orçamentária, isso na dívida passiva. Na dívida ativa, explica em parte a falência do Código Tributário Nacional. Na sociedade há 61 milhões de endividados e inadimplentes, e outra vez a maioria deve ser de pretos e pardos.

A ciência do endividamento público e privado há de consolidar a experiência brasileira nessas áreas, na legislação e em trabalhos acadêmicos e artigos sobre o endividamento em geral. A ciência das finanças públicas surgiu para estudar o orçamento público com ênfase na década de 30, com o keynesianismo.

A ciência do endividamento público há de responder, por exemplo: por que as pequenas e medias empresas têm tanta dificuldade para acessar ao credito formal? Por que recorrem ao crédito informal? Por que a taxa de juros tem sido tão alta no Brasil com respostas objetivas? Certo de que as pequenas e médias empresas são a maior fonte de emprego e pretos e pardos neste país, acredito que melhorando o ambiente de negócios, a vida se tornará mais fácil para todos.


Carlos Magno – Economista e escritor.