Artigo – Independência?

Comemora-se hoje o 195º aniversário da independência do Brasil. Mas somos, de fato, uma nação independente? Uma das premissas de uma nação efetivamente independente e soberana é o controle nacional (público ou privado) sobre os setores estratégicos da economia e sobre os fluxos de capitais externos. O Brasil não tem nem um nem outro.

Capitais externos controlam boa parte dos recursos naturais do país e avançam de forma acelerada sobre setores estratégicos, como petróleo/gás e energia elétrica. Grandes corporações transnacionais mantêm aqui importantes plantas industriais, mas as áreas de pesquisa, inovação e desenvolvimento estão nos países de suas matrizes.

O recém-lançado pacote de privatizações de Temer aprofunda o processo de desnacionalização da economia brasileira, que se intensificou com Collor, acelerou com FHC e, ao contrário do que se pensa, permaneceu nos governos Lula/Dilma.

Temer foi à China vergonhosamente colocar o país à venda: “Quero levar ao presidente Xi Jinping a notícia dos 57 setores que vamos conceder à iniciativa privada”.No caso dos aeroportos, vende-se o filé mignon (aeroportos lucrativos) e fica a Infraero com a carne de pescoço.

Ontem, na abertura em Belo Horizonte do 22º Congresso Brasileiro de Economia, mais de mil economistas e acadêmicos tomaram conhecimento de que até o Financial Times criticou fortemente Temer ao dizer que “É economia pobre usar vendas de ativos únicos (Eletrobras) para cobrir despesas correntes”.

Mas os tolos tupiniquins privatistas não percebem que o poder de fogo do capital externo é muito superior ao dos capitalistas brasileiros, ou seja, que privatização resulta em desnacionalização. Desconhecem a legislação dos países hegemônicos (EUA, Alemanha, China etc), que veda a venda de setores estratégicos ao capital estrangeiro. Desconhecem que a Embraer desativou sua fábrica na China porque não foi autorizada a produzir aviões com capacidade superior a 100 passageiros. Enfim, o que comemoramos?

Júlio Miragaya, Presidente do Conselho Federal de Economia