Presidente do Cofecon divulga estudo sobre o mercado de trabalho no DF

carteiraO contingente desempregado no Distrito Federal atingiu novo recorde histórico em fevereiro de 2017: 322 mil pessoas estão sem ocupação na capital da República. Ao considerar toda a área metropolitana de Brasília, que engloba cidades goianas do entorno do DF, estima-se que o contingente chegue a 475 mil trabalhadores sem ocupação em toda a região. Considerando esses adversos resultados, divulgados pela Pesquisa de Emprego e Desemprego no Distrito Federal (PED/DF), o presidente do Cofecon, Júlio Miragaya, elaborou uma nota técnica sobre a situação do mercado de trabalho na região. Confira abaixo o documento na íntegra:

322 mil desempregados em Brasília é novo recorde histórico
Na área metropolitana, são quase meio milhão de desempregados

O contingente desempregado no Distrito Federal atingiu novo recorde histórico no mês de fevereiro de 2017, com 322 mil pessoas sem ocupação na capital da República.

Estudo do IBRASE/COFECON já alertara que, em 2015, pela primeira vez na série histórica de 23 anos da Pesquisa de Emprego e Desemprego no Distrito Federal (PED/DF), ocorrera a eliminação de postos de trabalho no DF, 36 mil em relação ao contingente existente em dezembro de 2014.

Em 2016 houve uma parcial recuperação desta perda (saldo positivo de 31 mil postos de trabalho), mas nos dois primeiros meses de 2017 registrou-se saldo negativo de 33 mil postos, conforme mostra o Gráfico abaixo.

Saldo 1993 - 2017

A deterioração no mercado de trabalho local começou em 2013, após dois anos (2011/2012) de desempenho excepcional, com a geração de 100 mil novos empregos no DF. Já em 2013 e no ano seguinte, o número de postos de trabalho cresceu de forma pífia, em apenas 30 mil, tendo o contingente ocupado alcançado 1.326 mil em dezembro de 2014.

Este crescimento reduzido foi insuficiente para absorver o aumento da População Economicamente Ativa (PEA), de forma que o contingente desempregado cresceu, alcançando 163 mil ao final de 2014.

Em 2015, como agravamento da crise econômica nacional que afetou fortemente o Distrito Federal, houve a perda de 36 mil postos de trabalho (1.290 mil pessoas ocupadas em dezembro de 2015). Dessa forma, mesmo com a incorporação à PEA de apenas 20 mil pessoas, o contingente desempregado subiu de 163 mil em dezembro de 2014 para 218 mil um ano depois, com a taxa de desemprego saltando de 11,0% para 14,5%.

Já em 2016 ocorreu uma parcial recuperação dos postos de trabalho, com saldo líquido de 31 mil, muito aquém do necessário para absorver o enorme incremento na PEA, de 114 mil pessoas (compensando a tímida expansão da PEA em 2015). Sendo assim, o contingente desempregado saltou para 302 mil, recorde histórico.

Por fim, nos dois primeiros meses de 2017 o cenário piorou ainda mais, com a perda de 33 mil postos de trabalho (anulando completamente o saldo positivo conseguido no ano anterior). O resultado, mesmo que atenuado pela saída da PEA de 13 mil pessoas, foi de novo recorde histórico no contingente desempregado em fevereiro de 2017, atingindo nada menos que 322 mil pessoas, ainda que a taxa de desemprego de 20,0% esteja abaixo da taxa recorde de 23,9% de abril de 2003.

Evolução 2014-2017

Deve-se observar que os dados apresentados pela PED/DF escondem uma realidade ainda mais dramática, pois eles não incluem a Periferia Metropolitana de Brasília (PMB).

Numa simulação conservadora, estima-se a taxa de desemprego na PMB em 23,0%, ou seja, 15% acima da média do DF, similar à verificada no antigo Grupo 3 da PED/DF, que agrupava as Regiões Administrativas de baixa renda da capital federal (Ceilândia, Santa Maria, Planaltina, Paranoá, entre outras).Tal taxa de desemprego incidindo sobre estimadas 665 mil pessoas compondo a PEA da PMB vai resultar num contingente desempregado na Região de 153 mil.

Somados aos 322 mil desempregados no DF, totaliza 475 mil desempregados na Área Metropolitana de Brasília (AMB), elevando a taxa de desemprego metropolitano para 20,9%, simplesmente a 2ª maior taxa entre as metrópoles brasileiras, inferior apenas à Região Metropolitana de Salvador, mas superando a capital baiana quando se trata de taxa de desemprego aberto (18,5% versus 17,7% em Salvador).

Analisando-se os dados de acordo com a posição na ocupação, observa-se que nos últimos dois anos foram perdidos 35 mil empregos com carteira de trabalho assinada e outros 20 mil no setor público, voltando a crescer os ocupados no serviço doméstico e na condição de autônomos.

A análise segundo setor de atividade econômica revela que a ocupação na indústria de transformação mantém-se há anos em torno de 45 mil, pífios 0,5% do total nacional e que na construção civil, o atual número de 63 mil ocupados é 30% inferior aos 90 mil empregos existentes há quatro anos.

Em relação ao rendimento médio mensal real, o quadro é também desolador, tendo caído 3,6% em dois anos, de R$ 3.693,00 em janeiro de 2015 para R$ 3.559,00 em janeiro de 2017. Analisando-se os números segregados, observa-se que a queda foi substancialmente maior entre os assalariados do setor privado, com o rendimento médio real tendo caído 7,3%, de R$ 2.006,00 para R$ R$ 1.860,00, ao passo que entre os assalariados do setor público a queda foi bem menor, de 1,5%, de R$ 7.870,00 para R$ 7.752,00.

Como consequência,o rendimento médio dos assalariados do setor público, que em janeiro de 2015 era 3,9 vezes maior que o dos assalariados do setor privado, passou a ser 4,2 vezes maior em janeiro de 2017.

Os dados revelam também que a população ocupada de menor renda teve a queda mais acentuada em seus rendimentos. Os 10% mais pobres viram seus rendimentos médios mensais caírem de R$ 673,00 para R$ 542,00, redução de 19,5% em termos reais, bem mais acentuada que a queda entre os 10% mais ricos, cujos rendimentos médios mensais caíram de R$ 14.297,00 para R$ 13.107,00 (- 8,3%).

Efeito da queda da ocupação e do rendimento médio real, a massa de rendimentos caiu 9,0% desde janeiro de 2015, retornando ao nível existente há cinco anos, de fevereiro de 2012, o que explica as imensas dificuldades enfrentadas pelas empresas de comércio e de prestação de serviços em Brasília.

Os dados revelam a gravidade da situação e a necessidade de se agir para mitigar consequências negativas nas esferas econômica e social. Não obstante Brasília possuir o maior PIB per capita e a maior renda domiciliar do País, a taxa de desemprego é elevada em decorrência de sua estrutura produtiva pouco diversificada e de uma economia excessivamente dependente do setor público.O Distrito Federal acomodou-se com a condição de beneficiário de vultosas transferências financeiras da União e a inexistência de uma estratégia de desenvolvimento econômico é o seu maior sintoma.

Enquanto isso, os problemas se perpetuam: além da baixa diversificação de nossa estrutura produtiva e da excessiva dependência das atividades do setor público, tem-se a extrema centralização das atividades no Plano Piloto, a enorme concentração social e espacial da renda e a inexistência de qualquer planejamento integrado com a periferia metropolitana.

O mais grave é que subsistem tabus em relação às atividades que poderiam ser estimuladas no DF (e na periferia metropolitana), como a indústria de transformação, e que concorreriam para reduzir a taxa de desemprego e aumentar a receita tributária própria, tornando os orçamentos menos dependentes das transferências federais.

Ademais, ações que poderiam, no curto prazo, incrementar a atividade econômica local e, consequentemente, ampliar a geração de postos de trabalho e mitigar o grave problema do desemprego, não prosperam, podendo ser destacadas a implantação definitiva do Parque Cidade Digital; a inauguração efetiva da Cidade Administrativa em Taguatinga/Ceilândia e a ampliação e adequação do Polo Industrial JK.

Soma-se a isto a falta de iniciativa do GDF em buscar negociar com o Governo Federal determinados projetos estruturantes, como a conexão de Brasília com a Ferrovia Norte-Sul mediante um ramal ferroviário até Anápolis; a implantação do gasoduto Paulínia-Goiânia-Brasília; e a construção do anel rodoviário, que poderiam efetivamente transformar nossa estrutura produtiva.

Urge a elaboração e implementação de um plano de desenvolvimento integrado da Área Metropolitana de Brasília. Talvez o agravamento da crise “desperte” as esferas públicas e a sociedade brasiliense para uma caminhada na busca de soluções para os problemas estruturais que afligem a capital da República.

O fato é que os distintos governos perdem oportunidade de buscar as macrossoluções para o Distrito Federal por absoluta falta de planejamento. Se perdem na agenda imediatista, na escassez de verbas para atender as demandas de saúde, educação, transporte público etc, sem perceber que a falta de recursos guarda relação direta com as limitações na capacidade de arrecadação, que por sua vez decorre do baixo nível da atividade econômica.

Deve-se, por fim,enfatizar que, do atual mandato,já se passaram 27 meses, praticamente 60% do total.


Júlio Miragaya, Presidente do IBRASE e do COFECON