Artigo – Quem paga o pato?

O Ministro interino Meirelles afirmou: ou se cortam os gastos (sociais) ou aumentam os impostos! Ora, que se aumentem os impostos, mas dos mais ricos, que pagam pouco, instituindo-se o imposto sobre grandes fortunas, a contribuição previdenciária dos produtores rurais, reinstituindo-se a tributação sobre lucros e dividendos, etc. Em suma, que se mude o modelo tributário para não promover o desmonte das políticas de inclusão social.

Passados quase três meses de governo interino de Temer, a situação do País mudou? A grande mídia tenta incutir no povo a sensação de que está melhorando, buscando legitimar o golpe institucional previsto para se consumar no fim de agosto, mas o fato é que continua tudo como estava com Dilma: PIB em queda, desemprego aumentando, inflação desacelerando, aumento do superávit na balança comercial (devido à retração econômica) e déficit fiscal subindo.

Nada mudou porque colocaram uma cortina de fumaça para esconder o real problema: nosso modelo tributário regressivo, economicamente irracional e socialmente injusto – que tributa pesadamente o consumo (trabalhadores e classe média) e isenta a alta renda e a riqueza – não mais comporta o “sistema de proteção social” instituído pela Constituição de 1988.

O real motivo para a destituição de Dilma foi a impossibilidade de realizar o ajuste fiscal exigido pelo mercado financeiro, promovendo um corte brutal nos gastos sociais. Embora inicialmente tenha tentado, sua base social resistiu, ela recuou e foi afastada. O governo interino de Temer se sente mais à vontade para atender o mercado financeiro, com sua caixinha de maldades: PEC dos gastos, reformas trabalhista e previdenciária, terceirização, fim do abono salarial e desidratação do programa Mais Médicos, presente em 4.058 municípios brasileiros, sendo que em 2.500 deles só há profissionais do Mais Médicos. Não se iludam: o ajuste de contas virá em 2018.

Júlio Miragaya, presidente do Conselho Federal de Economia.