Artigo – Um olho no peixe…

O Conselho Federal de Economia tem se posicionado nos últimos anos em defesa do crescimento econômico, do combate à pobreza, da inclusão social e da melhoria na péssima distribuição social e espacial da renda no Brasil.

Coerentemente com estes princípios, por diversas vezes nos manifestamos contra a elevada taxa básica de juros, que inibe o investimento público e privado, encarece o crédito e desestimula o consumo; rechaçamos os absurdos gastos com pagamento de juros da dívida pública; criticamos a sobrevalorização da moeda para controlar a inflação, com notórios prejuízos para a indústria e as contas externas; e nos opusemos ao nosso modelo tributário, altamente regressivo e que incide fortemente sobre a produção e o consumo e, de forma pífia, sobre a renda e a riqueza.

Da mesma forma, aprovamos os programas de transferência de renda e a preservação e ampliação dos direitos sociais que beneficiam os extratos mais pobres e vulneráveis de nossa população, bem como aplaudimos a instituição da Política de Valorização do Salário Mínimo, que fortalece nosso mercado interno.

O Brasil vive um grande impasse: a manutenção do conjunto de programas governamentais, instituído a partir da Constituição Federal de 1988 e ampliado nos anos seguintes, que formam um colchão de proteção social, não cabe mais no orçamento público, especialmente devido às transferências para o topo da pirâmide social, que abocanha mais de 35% deste orçamento (700 bilhões de reais/ano) a título de juros da dívida pública, subsídios e desonerações tributárias de todo tipo.

A universalização de direitos sociais que inexistiam no País até 1988 – SUS, seguro desemprego, aposentadoria rural ampliada, que se juntaram a outros posteriormente, como o Bolsa Família, financiamento estudantil e habitação popular – é uma conquista da sociedade brasileira e dela não se pode abrir mão. Portanto, um olho no peixe, outro no gato. 

Júlio Miragaya, presidente do Conselho Federal de Economia