Presidente do Cofecon participa de palestra e Plenária em Porto Alegre

O presidente do Cofecon, economista Júlio Miragaya, foi o palestrante do Economia em Pauta, ocorrido no dia 31 de março, no Hotel Plaza São Rafael, que abordou a conjuntura econômica nacional. O encontro foi aberto pelo vice-presidente do Conselho Regional de Economia do Rio Grande do Sul (Corecon-RS), economista Darcy Francisco Carvalho dos Santos, que falou da importância do tema e agradeceu a presença do palestrante e da plateia. No dia seguinte à palestra, Miragaya participou da Sessão Plenária do Corecon-RS.

O presidente do Cofecon iniciou sua palestra dizendo que o País vice hoje uma crise econômica, alimentada por outra crise, de caráter político, que vem desde o final do processo eleitoral de 2014. Explicou que essa crise econômica decorre da insegurança dos agentes econômicos em relação a falta de investimentos, formando uma ciranda, em que as dificuldades econômicas existentes estimulam a crise política e, ao mesmo tempo, a crise política realimenta a situação econômica. “Então, sem uma resolução desse impacto político, dificilmente encontraremos uma alternativa para retomar o crescimento econômico”, afirmou. Lembrou que, ainda em 2015, apesar de estar muito claro que se teria dificuldades pela frente, em função dos programas fiscais, havia, também, uma expectativa de que, em 2016, ocorreria uma retomada do crescimento. “Só que a crise perdurou durante todo o ano de 2015 e todo esse primeiro trimestre do ano e já se considera 2016 como um ano perdido, com pequena perspectiva de retomada em 2017”, afirmou, alertando que, “se não for solucionada essa crise política, teremos um ano de dificuldade econômica também em 2017”. Disse que, possivelmente terá que se esperar as eleições de 2018 porque, mesmo que aconteça o afastamento da atual presidente, os problemas políticos não estarão resolvidos pelo menos até o final do ano. “Então nesse contexto, dificilmente haveria tranquilidade para um eventual governo Temer”, acrescentou.

Miragaya apresentou uma análise do contexto internacional. Para ele, o cenário, que esteve muito difícil há dois anos atrás, amargando um recorde de transações correntes de U$ 104 bilhões, o equivalente a 4,5% do PIB, tem perspectiva de queda desse déficit para U$ 15 bilhões, em torno de 1% do PIB, que é um saldo totalmente coberto por investimentos diretos. “Isso foi propiciado pela correção do câmbio, que acabou favorecendo as contas externas”, ressaltou. Disse que o cenário na área da inflação também é bastante favorável, em função da recessão econômica e das altas taxas de desemprego, que acabarão provocando, depois de muitos anos, um comportamento de queda dos chamados preços livres. Lembrou, no entanto, que o maior problema está na questão da taxa de juros, que continua muito elevada e tem emperrado qualquer possibilidade de retomada, já que inibe o investimento privado. “O que acontece é que ela retira recursos dos investimentos públicos, em função dos gastos com a dívida pública, e desestimula o consumo, ficando muito difícil vislumbrar uma retomada de crescimento, se não houver uma reviravolta na política monetária”. Explicou que, da mesma forma, a taxa de juros afeta o quadro fiscal, cujo problema ocorre muito mais por uma redução da receita do que propriamente pelo aumento da despesa. Lembrou que a despesa tem caído em decorrência da retração econômica e “se não se consegue retomar o crescimento econômico, também não se conseguirá solucionar o problema fiscal”. Disse que chegou o momento de o Comitê de Política Monetária (Copom), em sua reunião do final de abril próximo, decidir por iniciar um curso de redução da taxa básica de juros. “Esta é a posição do Cofecon”, exclamou, lembrando que durante todo o ano passado, especialmente no segundo semestre, a entidade já colocava a necessidade, prevendo um alívio da pressão inflacionária.

Júlio Miragaya apresentou, ainda, um resgate histórico do chamado presidencialismo de coalizão, que, para ele, tem levado a uma situação de fragmentação política e à necessidade de composição com dezenas de partidos políticos para garantir a governabilidade, e do excessivo financiamento privado das campanhas políticas. Disse que não considera que o Brasil esteja vivendo uma situação de caos, mas uma crise muito forte de sua economia, e que a percepção de caos fica por conta da falta de habilidade do governo em passar uma segurança desse cenário, do que propriamente aos fundamentos da economia. “A presidente Dilma revela uma incapacidade de liderança e de diálogo muito grande na condução do quadro político, dificultando muito a resolução dos problemas”, disse.

Apresentou dados sobre o comportamento das exportações brasileiras, dizendo que recentemente o País começou a experimentar melhora de sua balança comercial, saindo de uma posição deficitária em 2014, de cerca de U$ 4,5 milhões para um superávit de U$ 20 milhões no ano passado, além de uma perspectiva de fechamento em U$ 40 milhões neste ano. “A desvalorização da nossa moeda ajudou a recuperar a nossa capacidade exportadora, particularmente da indústria, o que tende a melhorar a partir de agora”, afirmou. Disse que, da mesma forma, na área cambial, o quadro está favorável, com reservas internacionais da ordem de U$ 370 milhões, estimuladas pela valorização do dólar, o que deixa o País em posição confortável diante de eventuais turbulências no mercado externo. Criticou a política monetária que vem sendo adotada pelo Banco Central que, diferentemente dos bancos centrais dos países desenvolvidos, definem taxa de juros com foco na inflação, deixando de lado indicadores fundamentais, como nível de atividade econômica, taxa de desemprego, entre outros. Segundo o economista, na área fiscal, o déficit público poderia ser resolvido com o aumento da receita, o que significaria aumento da carga tributária e consequente reaquecimento da atividade econômica. “O déficit fiscal vem acontecendo, não por conta da despesa, mas de uma frustração de receita”, disse, lembrando que existe uma queda brutal da arrecadação tributária que acaba gerando crescimento do déficit, provocando a elevação da taxa de juros. “Não tem como retomar o crescimento econômico sem começar a mexer na taxa de juros, até porque ela impacta fortemente nos gastos da dívida pública”, concluiu.

Também participaram do Economia em Pauta os conselheiros Alfredo Meneghetti Neto, Aristóteles Galvão, Bruno Breyer Caldas e Rogério Tolfo, o conselheiro federal Henri Bejzman, além do ex-presidente do Corecon/RS Lauro Renck, o ex-delegado federal Luiz Machado, e o ex-vice-presidente Carlos Alberto Abel.